Se você é uma pessoa que estudou, trabalhou e viveu toda sua vida aqui no Brasil, você deve ter se perguntado essa questão um milhão de vezes – ficar trabalhando aqui ou viajar para fora?
A resposta é: se você tem uma chance de ir e trabalhar no exterior por, pelo menos, uma vez em sua vida, você deve ir.
Por que?
Porque trabalhar no exterior não é sobre ganhar mais dinheiro ou melhorar sua qualidade de vida, mas é sobre a própria experiência. Trabalhar em outro país, cercado por uma cultura diferente, abre a sua mente para outros pontos de vista, que você pode não ter considerado antes.
Você começa a pensar sobre possibilidades que nunca pensou existir. Essa experiência mostra que há mais de uma maneira de fazer algo. Você também aprende a se adaptar a pessoas de culturas diferentes, que falam línguas diferentes e que têm uma cultura de trabalho diferente.
Trabalhar no exterior muda completamente a maneira de pensar, agir e se comportar. Esta é uma experiência de vida única que nenhum livro, escola ou curso de treinamento pode ensinar.
É algo que você aprende sozinho. Por isso você deve ir para o exterior.
Especialmente se você é um programador. Por que? Temos três razões principais:
Programadores brasileiros têm uma ótima reputação no exterior por serem muito técnicos, mas também terem conhecimentos de negócio.
Amit Uttam, um consultor de software (originalmente da Índia) com uma carreira de consultoria extensa, atualmente trabalhando com Door2Door em Porto Alegre, diz que –
“Higher-end developers are fantastic in Brazil. They generally come from the Federal and top private universities. For example, I hire from USP, UFRGS & PUC a lot. A few years in, this group tends to get picked up by startups in California, Berlin, etc. A lot of top talent flies out, with a fair percentage returning after a few years.”
Desenvolvedores de alto nível são fantásticos no Brasil. Eles geralmente vêm das melhores universidades – públicas e privadas. Eu, por exemplo, contrato pessoas da USP, UFRGS e PUC com frequência. Depois de um certo tempo, esse pessoal tende a receber propostas de startups na Califórnia, em Berlim, etc. Muitos dos principais talentos vai, e uma boa porcentagem volta depois de alguns anos.
O próximo ponto: devs brasileiros são mais proativos em comparação com seus concorrentes.
“Se eles não são capazes de cumprir o prazo, eles fazem alguma coisa. Eles não vão esperar até o último minuto e, em seguida, dizer que não pode cumprir o prazo.”
– Antonio Moreira, CEO de Stefanini IT Solutions na América Norte.
Eles também são bastante comunicativos. Eles não vão ter aquela postura de “vou apenas fazer o que foi mandando, mesmo que eu saiba que não está certo”, sugerindo novas ideias e abordagens, caso achem que isso vá beneficiar o projeto.
Finalmente, os brasileiros têm uma grande reputação por serem abertos, gentis e receptivos. A Alejandra Alonso Valencia, que é da Colômbia e atualmente está trabalhando no SAP Labs no RS, disse que –
“Eles me fazem sentir bem e especial e sempre me ajudam bastante. É incrível trabalhar aqui.”
O Amit também tinha algo semelhante a dizer –
“Having lived in the East and West for enough time, I found that Brazil brings the right balance of both philosophies. A fertile place to make a healthy living, with premier facilities, a manageable generally-educated population, and a society operating on “human” principles (devotion to family is preferred over devotion to work, relationships matter more than outcomes, etc.).”
Tendo vivido tanto no Oriente quanto no Ocidente por algum tempo, acho que o Brasil tem o melhor equilíbrio entre as duas formas de pensar. É um lugar bom para fazer a vida, com bons lugares e pessoas educadas e “gerenciáveis”. Também é uma sociedade que opera com princípios “huamos” (as pessoas são mais devotadas à família do que ao trabalho, os relacionamentos importam, etc).
Com este tipo de imagem e reputação, o perfil do um dev brasileiro já é bem forte. Se você quiser aprimorar o seu perfil, pense em viajar para fora, preferencialmente para um país com uma cultura do trabalho que seja completamente diferente da sua. Mas, por onde começar? Eu listei 5 ótimas opções para você:
1. AIESEC
A AIESEC é uma organização internacional que ajuda a facilitar a mobilidade dos estudantes, oferecendo estágios profissionais e sociais no exterior. É ideal para estudantes e recém-formados que estão entre 18-30 anos de idade. A Amanda Molina Zoppas de Porto Alegre, fez dois desses estágios – um na Alemanha e outro na Electrolux na Suécia. Veja o que ela tinha a dizer –
“Trabalhar na Europa é diferente do que trabalhar aqui. Fiz dois estágios, porque trabalhar na Alemanha é bastante diferente do que trabalhar na Suécia. Cada país e cada empresa tem sua própria maneira de trabalhar, que está implícito por ambas as culturas locais e corporativas. Eu escolhi ter uma experiência fora do Brasil para obter mais habilidades e depois voltar para meu país e procurar um emprego melhor. Eu também pensei que iria ampliar minha perspectiva, me ajudar a pensar em diferentes abordagens para resolver um problema. A AIESEC em Porto Alegre ajudou a encontrar um estágio, ajudando-me a preparar para entrevistas internacionais.”
Então, se você ainda é um estudante ou um graduado recente, entrar em contato com o capítulo local da AIESEC em sua cidade e começar a procurar o seu estágio com a empresa de sonho.
2. O Mercosul
O Mercosur ou Mercosul é um acordo entre países latino-americanos – principalmente Brasil, Colômbia, Peru, Argentina, Uruguai e Chile. Ele facilita mobilidade entre esses países. Você pode trabalhar em qualquer desses países facilmente. A papelada é mínima, e obter um visto é bastante fácil. Há muitas pessoas da Colômbia, Uruguai, Peru e outras nações do Mercosul, como a colombiana Alejandra que trabalha no SAP Labs, que estão aqui no Brasil e simplesmente adoram. É também mais fácil para você se adaptar em um desses países, devido às semelhanças em suas culturas. Esta é uma das opções mais fáceis e também mais baratas para uma grande experiência de trabalho no exterior.
3. Portais de vagas
Hoje em dia existem várias portais de vagas como Stack Overflow, LinkedIn, Vanhack, Working Nomads, Landing.jobs para devs que desejam trabalhar no exterior. Você precisa fazer muita pesquisa para conseguir um emprego através desses portais.
Dica: Quando você pesquisa, use Portuguese ou Brasil como palavras chaves em sua pesquisa. Assim você pode ver as oportunidades que são apenas para os brasileiros. Um ex-colega meu foi para a Estônia para trabalhar com Pipedrive. A Pipedrive queria expandir suas operações aqui no Brasil e estava procurando Brasileiros que eram profissionais de vendas, marketing, desenvolvimento, sucesso de clientes e suporte.
4. Fazer network através de grupos internacionais como AIESEC, Internations, Meetup
Mesmo se você tem todas as habilidades certas e é perfeito para o seu trabalho dos sonhos, ser contratado no exterior não é fácil. O que realmente ajuda é fazer networking. O meu caso, por exemplo: eu sabia que queria uma experiência no exterior, tinha o perfil certo e estava procurando por um bom estágio. Eu falei com meus contatos no AIESEC Mumbai e eles contataram outros em seus networks. Assim eles descobriram que uma empresa perto do Porto Alegre estava procurando um estagiário com um perfil como o meu. Eles também me ajudaram com a minha entrevista e o processo de visto. Isso acelerou o processo e eu fui para o Brasil em dois meses.
Outra razão que você precisa de fazer network é para ajudá-lo á adaptar com a cultura no exterior. Viver no exterior longe de sua família e amigos, em uma cultura que é diferente da sua, é difícil. Foi um pouco mais fácil para mim por causa da AIESEC e meus colegas incríveis aqui (que eu absolutamente adoro!) me ajudaram em todos os sentidos possíveis. Outro grupo que me ajudou era o Internations, um grupo muito vibrante de expatriados em todo o mundo. Mais um é o Meetup.
Então, tente se conectar com pessoas de grupos internacionais, especialmente se você não tem contatos pessoais. Ir para as reuniões deles para eles saibam quem você é e o que você está procurando. Você nunca sabe quem poderia encaminhá-lo para um amigo que poderia conectá-lo com uma oportunidade incrível!
5. Estudar no exterior
Inscrever-se em um programa de mestrado ou doutorado que é relevante para o seu campo no país que você deseja trabalhar também é uma opção. Claro, essa é uma opção mais cara e demorada, mas você terá alguns anos para construir seu network e fazer conexões importantes que vão ajudar você começar. Existem algumas grandes bolsas de estudo para os Brasileiros que você pode aplicar para:
- O Projeto Ibrasil – Erasmus Mundus para países da UE
- Orange-tulip scholarship para Holanda
- Edinburgh Global Latin-American Masters Scholarships para o Reino Unido
- Capes-Humboldt Research Fellowship para estudos pós-doutorais na Alemanha
- Joint Japan/World Bank Graduate Scholarship para o Japão
- Campus France, para estudos na França
Veja este link para ajudá-lo a escolher a bolsa certa para si mesmo – https://www.topuniversities.com/student-info/scholarship-advice/international-scholarships-brazilian-students
Requisitos para conseguir um emprego no exterior
Um questão que quase todos os Brasileiros me perguntam é: o seu nível de fluência em inglês afeta suas chances de ir para o exterior? A resposta é sim, ele afeta. Você deve ser capaz de se comunicar claramente em inglês. Além disso, algumas empresas podem pedir que você faça o teste de IELTS General Training, especialmente se você está fazendo um visto para países como Austrália, que precisam que você passe nesse teste para conseguir um visto de trabalho.
Outra questão que me fazem seguido é o diploma – se você precisa de um para ir para o exterior. Aqui a resposta é: depende do trabalho e requisitos de visto do país que você deseja ir. Apenas o diploma não vai ajudar você conseguir um emprego. Seu perfil precisa corresponder ao que eles estão procurando e, lembre-se, mesmo com o perfil certo, é difícil conseguir um emprego. Eu diria que, além do conhecimento em inglês, outra grande questão é ter aquela chance (desde que, claro, você seja bom para a vaga), e isso é algo que se resolve com um bom networking.
Para concluir, gostaria de pedir que você considere trabalhar no exterior pelo menos por um breve período e depois voltar ao Brasil. Ser um programador é um conjunto de habilidades únicas que podem ser aplicadas em qualquer lugar do mundo. Assim, você está posicionado de forma única para ser capaz de viajar e viver em outros lugares como parte de seu trabalho.
Você vai avançar muito na sua carreira, viver uma vida melhor e enriquecida com sua experiência no exterior. Além disso, você será um programador muito melhor.
Gostaria de deixar você com o conselho da Amanda – tente, tente, e tente um pouco mais. Assim você certamente vai conseguir o que você está procurando.
E você? Já trabalhou no exterior? Se sim, então compartilhe sua experiência na seção de comentários.